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José Emílio Vicente

A soluçom dos bárbaros

13:35 18/06/2009

“Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem”

Bertolt Brecht

Num dos episódios dos Electroduendes, todos os partidos políticos coincidam em condenar a pertinaz seca que assolava a Espanha durante cinquenta e três anos. O porta-voz do governo socialista remitia-se a umha “enérgica condena”, enquanto a opossiçom estendia a inevitável condena à saraiva. Como nom podia ser doutro jeito, Izquierda Unida era a formaçom que se expressava em termos mais contundentes para desembaraçar-se de qualquer dúvida sobre a sua adesom à orde, condenando também as giadas, os furacáns e as tormentas de verão.

Várias décadas depois, a resposta repetirá-se umha e outra vez de escoitarmos aos ilegítimos donos do espaço público, como se pretendessem vencer-nos por tautologia: os grevistas do metal som umhas bestas que destruem a cidade mais populosa do país e sequestram os seus habitantes durante horas, até que a polícia logra restabelecer a ordem; uns insolidários que ignoram a situaçom do resto dos trabalhadores e empresários, sem conformar-se com a sorte de ter um emprego; finalmente, danam-se a si mesmos já que ponhem em perigo o seu próprio futuro ao fazer perigar possíveis contratos.

Quanto mais valoramos os objetos, menos apreçamos as pessoas: umha parte da vizinhança mostra umha maior empatia com o mobiliário urbano que com os seus vizinhos, insulta aos manifestantes ao seu passo e bota-se aos foros dos jornais digitais, quase para berrar “Viva o Mal, Viva o Capital!”. Umha e outra vez chamam-lhes vándalos ou bárbaros, utilizando o mesmo termo que os romanos reservavam para todo aquel situado fora da sua civilizaçom.

Digamo-lo claramente: uns quantos contentores queimados, e até um autocarro, empalidecem em comparaçom com a força exercida pola patronal. Também neste casso, as principais vítimas da violência, as que a sofrem dia trás dia e hora trás hora em forma de explotaçom laboral, precariedade e baixos salários, som apressentadas polos seus escravistas como um conjunto de hordas dispersas que ameaçam com introducir-nos no caos e na era de obscurantismo. Portanto, merecem o castigo, polo menos no tempo que dura a marcha polas ruas e a consequente (nos dous sentidos da palavra) batalha campal.

No entanto, quem legitima a violência é quem a aplica estruturalmente. O poder nom renúncia nem à construçom de consenso –o que deu por enterrada a história e que nega a existência da luita de classes- nem à utilizaçom da força, ainda que tenta invisivilizá-la e naturalizá-la como o estado normal das cousas. Em troques, exige dos oprimidos que abandonem, sempre e em qualquer circunstáncia, umha resposta digna. A coacçom institucionalizada de arriba, bem organizada e financiada, reclama sempre que o povo ofereça a outra bochecha (para esbofetear-lha).

Nengumha conquista social provém de reformas sem tensom. Em todos os processos históricos existem luitas mais ou menos contundentes que também contribuem nos avanços, assi como a pressom que representa a certeza de que o  estancamento do conflito provocará novos abrochos de violência. Em todo o caso, som os oprimidos, carregados de legitimidade, os que escolhem o instrumento mais efectivo em cada casso. Qual seria a situaçom laboral do metal se nom se adoptaram até o de agora as respostas adequadas? Exemplos negativos abundam noutros sectores no nosso país.

Certamente, a civilizaçom inscrita nas fronteiras do capital repugna-nos a muitos, porque precisamos liberdade para respirar. Quando os trabalhadores da metal saem às ruas nom estám obrigados, como defende a sonosfera mediática, a se conformar com ter um trabalho, nem a retirar-se para proteger a “imagem” da cidade, nem a apresentar umha instáncia para lançar uns quantos parafusos contra quem tem por profissom disparar bolas de goma e gases lacrimogéneos. Nem trabalhar é um privilégio que haja que agradecer ao patronato ou ao governo, nem os empresários produzem riqueza altruistamente.

Os grandes empresários, que tenhem muito a ver com a origem da crise, nom parecem renunciar à opulência que demanda o seu apetito insaciável, pero solicitam ou esigem continuamente maiores sacrifícios do mundo do trabalho. Bem pouco nos importam os supostos problemas económicos dos explotadores, ainda que estamos fartos de escoitá-los: se nom atopam mais saída que recorrerem à permanente chantagem do peche ou a deslocalizaçom, nom fam senom dar-nos mais argumentos aos que defendemos umha outra sociedade.

Rosa Luxemburg dizia que nom há nada mais improvável, mais impossível, mais fantasioso, que umha revoluçom... umha hora antes de que exploda. Há décadas que a dereita rompeu unilateralmente o já frágil pacto social que dera lugar –numha diminuta parte do mundo- a um exiguo Estado Providência. As forças sociais também terám que mover-se desde os consensos impossíveis até a confrontaçom, até a única política possível. Sementaremos os ventos precisos para recolher as imprescindíveis tempestades? Ou somaremo-nos à firmeza do Partido Único para defender os poderosos, ainda em termos mais contundentes, para  condenar também os furacáns e as giadas? Quiçais os bárbaros foram sempre umha soluçom, depois de todo.

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José Emílio Vicente Caneda (Compostela, 1980) é xornalista e activista do nacionalismo galego de esquerdas, colaborador de diversas publicación, organizacións sociais e culturais. »



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