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Ernesto Vázquez Souza

James Bond & Cillit Bang

18:05 24/06/2009

Podia ter sido qualquer dia. Mesmo podia ser hoje. Mas foi o 8 de março. Naquele dia vi muita Tv. Nem sei porquê, mas vi. Como havia tempo que não via. Não tinha vontade de mais nada aqueles dias.

Vi nos telejornais muito e absurdo espetáculo e alguma cousa do dia da mulher. Zapping vai e vem. Imagens curiosas ao primeiro, imagens repetidas até aborrecer. Cenas a oferecerem nenhum comentário nesses noticiários entre absurdos de frivolidades e desestrutura hierárquica.

O que mais recolhiam as câmaras em relação era um show de faixas, sorrisos, rostos pintados e discursos políticos (algum do PP realmente imoral). Tudo no mesmo nível de irrelevância magnificada que outros sucessos locais e novas internacionais. Sangue. Crise. Algo sobre um elefante. Flashes rápidos sem conexão que estão na moda para valeirar os cérebros afazendo-os aos consumos maciços e fragmentados.

Porém, o resto do dia, nas TV, públicas e privadas, os anúncios e mensagens igual (bom igual não, pior, que eu há muito que não via TV) de sexistas de sempre. O resumo acho que se podia esquematizar: Homens = carro e outros complementos, mulheres = produtos de beleza & limpeza... e quanto a modelos estéticos: machos e anoréticas...

Um bocadinho grotesco. Mas tudo chegou à apoteose com a penúltima de James Bond emitida pela 1ª da TVE. Não vira no cinema e não gostei. Mas entre o filme e a moreia de anúncios (mais carros masculinos, mais senhoras a limpar..., mais supermachos e mais superanoréticas) fiquei atordoado.

No zapping sem rumo fugindo da publicidade achei outros filmes série B dos anos 50, 80, videoclips musicais e novelas dos 90. Curioso. Os homens eram uma constante de supermachos, mas as mulheres não eram anoréticas...

Pensei que nunca tão claro vira o desprezo pela mulher, e constatei que nunca tão pouco importou já nenhuma das mensagens de progresso que o século XX dava como consolidadas.

Compreendi. O cânone físico de macho está imutável na sua fasquia de guerreiro fornido e ainda com plus se violento a calcar o mundo. Ainda que a tecnologia e a moda lhe mudem os gadgets mortais, a gravata e o penteado, cá temos o mesmo Kouros desde há mais de 2.500 anos. Agora a combater “terroristas”.

Mas o da mulher varia tanto de uma década a outra; como se ela mesma fosse um outro gadget de cena no filme de Bond. Entanto “M” vira cada dia mais suspeitosamente semelhante de uma tópica bibliotecária ou secretária de ministério, ambas as duas “bond girls” dão em “prescindíveis”, com bastante violência, mas sem muita bágua, na lógica dos espiões e os supermachos, que predomina como mensagem ainda nessa data.

A sério, as mesmas formas físicas dos cânones femininos mudam, entanto os seus gadgets progrediram todo o mais até o “Cillint bang” no combate, contra os gérmenes, as nódoas e os cativos, pelo controlo do espaço caseiro, anunciado isso sim na legendagem qualquer categoria profissional ou altos estudos.

Mas realmente vamos para trás, como com a língua. Já nem respeitam nem os dias de guardar...

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(A Crunha, 1970) Da Academia Galega da Língua portuguesa, Doutor em Filologia Hispânica (secção de Galego Português), especialista em história do impresso galego na etapa contemporânea. Tem focado os seus contributos arredor do movimento das Irmandades da Fala, a figura de Angel Casal e o mundo do livro galego. Trabalha como bibliotecário na Universidade de Valladolid.
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