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Entrevista a David Fernández

"Hai un cadro global de loita contra a disidencia, equiparando disidencia e terrorismo"

Fala o autor dun estudo sobre a política policial encol dos movementos sociais cataláns. Unha entrevista de Ângelo Pineda.

Ângelo Pineda - 08:00 23/07/2007
David Fernández

David Fernández

Nos últimos messes, o movimento “okupa” está no centro da polêmica em Barcelona por alguns desalojos (Miles de Viviendas, La Fusteria...) e por alguns incidentes entre os seus activistas e o corpo dos Mossos d’Esquadra. Desde há mais de dez anos, o colectivo okupa padece umha pressom constante por parte das polícias espanhola e catalã. Umha pressom que se expressa em métodos próximos à espionagem e à ilegalidade.

Sobre esta questom publicou-se, em Dezembro de 2006, um livro que relata as actuações da Brigada VI de Informaçom da Polícia Nacional, cujos agentes provêm da Brigada Anti-terrorista. Trata-se de Cróniques dels 6 i altres detalls de la claveguera policial (Ed. Virus). Falamos em repressom política com o seu autor, o jornalista e politólogo David Fernández (Vila de Gràcia, Barcelona, 1974), quem nos revela alguns dos casos e conclussões das suas crónicas.

Ângelo Pineda: O que é o Grupo dos 6?

David Fernández: É um grupo que se cria teoricamente no ano 1996 paralelamente ao desalojo do cinema Princesa, e que é um ponto de inflexom na repressom dos movimentos sociais catalães. É um grupo integrado por uns 60 agentes e, contra o que se puder pensar, nom busca ilícitos penais que se cometeram ou que se vam cometer, senom que a sua funçom foi a de controlarem as ideias de dúzias, centenares e milheiros de jovens de Catalunha. Um controlo estricto dos movimentos sociais alternativos num senso muito amplo. Desde a okupaçom que emergira com força a médiados da década dos 90, até a insubmissom, o independentismo, o anti-fascismo ou até o anti-militarismo. É um grupo que nos demostrou nestes anos provavelmente, todo o amplo repertório repressivo do que dispõe o estado. Infiltrados, intervenções telefónicas, acoso pessoalizado, maltratos...

A.P.: Afirmas que se criou para o controlo dos jovens dissidentes de Catalunha. Porém no teu livro, fazes referência a casos que se produziram fora das fronteiras catalãs. É o caso da detençom, em 2006, de 11 pessoas ligadas à organizaçom AMI (Assembleia da Mocidade Independentista) dentro da operaçom Castinheira... O Grupo dos 6 actua num quadro mais amplo do que o do Principado da Catalunha?

D.F.: Eu acho que sim e acho que nom. O “nom” é que o Grupo dos 6 nom é um grupo excepcional. Cria-se logo do espaço pós-olímpico, quando aqui estava todo “morto” e “derrotado”. Apartir do 93 e 94 volvem surgir com força, mais umha vez, os movimentos sociais. A repressom sempre funciona em paralelo à realidade, à potência da antagonia social. Entom nasceu aquele grupo. O que sim é verdade é que noutros lugares do estado, entre deles Galiza com a AMI, ou Asturies, ou Madrid... seguramente que nom com o potencial de 60 agentes (que som muitos), mas sim que se dispõe também da mesma estructura repressiva, jurídica e legal que se emprega contra os movimentos sociais. Quando conhecemos o encarceramento e libertaçom, hoje mesmo, de dous sindicalistas como Cándido e Morala em Asturies; ou casos como o de AMI em Galiza, excepcionalizando a luita da mocidade independentista, enviando a gente a Madrid, fazendo-os passar polas piores leis que há no estado, por espaços de autêntica excepcionalidade jurídica e penal; como é a Audiência Nacional, a incomunicaçom que se aplica com a legislaçom anti-terrorista, ou como a aplicaçom da dispersom penitenciária que hoje estám a padecer presas galegas. Sim que é verdade que a arquitectura repressiva que padecemos Galiza, Catalunha ou, com muita diferença, Euskal Herria (com feches de diários, ilegalizaçom de partidos...) é a mesma. Claro que cada naçom e cada povo tem a sua própria dinâmica, e a polícia actua também com dinâmicas particulares. O Grupo dos 6 sim que cruzou fronteiras, mas para ir ao País Valenciano, por exemplo, em determinadas operações. O “sim” é que há um quadro global de luita contra a dissidência, equiparando dissidência e terrorismo, com aplicações concretas em territórios concretos em funçom das especificidades concretas que há em cada lugar. No caso de Barcelona, a potencialidade, o que dá mais medo e o que mais se criminaliza é o movimento okupa. Em Galiza ou em Asturies seguramente nom é esta a realidade. Em Asturies talvez é o sindicalismo autónomo e combativo o que dá mais medo, em Andaluzia talvez o sindicalismo dos jornaleiros ligado ao SOC (com multas a 110 sindicalistas operários do campo) e no caso de Madrid também seriam os movimentos de carácter autónomo ou alternativo.

A.P.: O ano passado publicache o livro “Cróniques dels 6 i altres detalls de la claveguera policial” na editorial Virus. Como surgiu a ideia e que se pretendia com a publicaçom deste livro?

D.F.: Pois o nascimento é umha ideia colectiva. Trás do Grupo dos 6, nos últimos dez anos, há mais de 2.000 detenções. Sempre há umha história. No nosso caso, a história tem dous pontos de origem um pouco anecdóticos. Quando chegaram os Mossos e teoricamente a Polícia Nacional já marchou de Barcelona, a primeira manifestaçom dos movimentos sociais em Novembro de 2005, decatamo-nos de que estavamos vigiados polos Mossos d’Esquadra, pola nova Brigada de Informaçom dos Mossos d’Esquadra, e que ainda continua o grupo operativo. Mas no fundo, a motivaçom colectiva que há trás deste livro é o caso dos 3 de Gràcia, que é o caso de três companheiros de bairro que, da noite para a manhã em 2002, logo das protestas contra Cimeira Europeia de Barcelona, contra a Europa do capital e da guerra, som detidos num momento muito alto de luita social e som apresentados o dia seguinte como terroristas, acusados de actos terroristas. Nós, desde o primeiro dia, defendimos a sua inocência. Quatro anos depois, 1.460 dias depois, reconhece a sua inocência a própria fiscalia da Audiência Nacional. Antes deste reconhecimento para os 3 jovens que estiveram quatro anos atentos a se entravam ou nom em prisom para cumprir 12 anos, havia que difundir esta realidade, demostrar quem era o protagonista deste processo. Protagonista que nom o eram os 3 de Grácia nem nengum movimento social, senom um grupo político que actua com absoluta impunidade, que marca a agenda política (que nos marca a agenda política) e que é quem de realizar este tipo de montagens implicando a três jovens em delitos de 18, 19 ou 20 anos de prisom. Naquela altura, na campanha o objectivo era, por umha parte, difundir o processo dos 3 de Grácia, apresentar em sociedade os verdadeiros protagonistas do caso dos 3 de Grácia. Por outro lado, o objectivo era ajudar economicamente as familias, os conhecidos e os três companheiros, para ter umha boa defesa em Madrid, para os deslocamentos... Som processos que têm uns custos muito elevados. No nosso caso, colectivamente, gastamo-nos mais de cem milhões de pesetas, 600.000€. Esta é a ideia. Quando o livro chega ao prelo, afortunadamente a fiscalia diz que nom há qualquer prova e arquiva a causa contra estes companheiros. Entom, fica o objectivo socializador: de como funciona a repressom, que tivemos umha transiçom muito mal-parida, que logo de 25 anos de jovem democracia demostra-se que os casos siguem sendo os mesmos, e que a sentina do estado funciona, como numha habitaçom obscura, à margem da sociedade. Achamos interessante o objectivo de socializar esta questom, por isso o livro foi avante. Neste caso, o objectivo económico mantem-se para a Cordinadora de Prevençom da Tortura, que funciona num âmbito estatal e que integra colectivos bascos, catalães, galegos e castelhanos.

A.P.: Comentavas que o Grupo dos 6 actuava numha habitaçom obscura do estado. Nom foi umha dificuldade na realizaçom do teu livro o facto de que existisse pouca informaçom sobre este grupo?

D.F.: Foi dificil, nom tanto na parte jornalística do livro... Eu acho que a autêntica dificuldade é a que tiveram as 2.000 pessoas, as suas famílias, os advogados destas 2.000 pessoas detidas nestes dez anos, quando tiveram que explicar ao vizinho, ao companheiro de trabalho ou ao amigo que aconteciam cousas como estas. O primeiro muro com o que tiveram de enfrentar-se é o do prórpio companheiro que desde a incredulidade e a ingenuidade, nom acredita que isso se poida passar. Claro, mas quando isso acontece a um companheiro trabalho ou a um familiar... É difícil, porque nengum médio de comunicaçom noticiou nunca o Grupo 6 apesar de que estiveram no centro de autênticas polêmicas como a do cinema Princesa, como o 12 de Outubro de 1999, como o desfile militar do 2000, como a Cimeira Europeia com 110 detidos em Barcelona... Entom sim que, como movimentos, custou-nos muito vissibilizar este grupo... e nom! Porque no 99 houvo um juiz que fez umha setênça, para nós muito significativa, com a absoluçom de cinco companheiros do movimento okupa por nom haver nengum delito. A sentença, que é firme, acabava dizendo “Os informes enviados pola Brigada de Informaçom parecem redactados pola afortunadamente extinta Brigada Político-Social do franquismo”. Para nós, isso foi muito sintomático de como foi a transiçom. Mas custa muito luitar contra o silêncio, contra o muro de silêncio que permite que funcione esta sentina. Por isso dizemos que esta repressom contra dissidência funciona numha habitaçom obscura; porque nom pode sair para a luz pública. Umha, porque seria um escândalo político; duas, porque muitas vezes funciona na alegalidade e na ilegalidade; e três, porque evidenciaria o carácter fondamente anti-democrácico dalguns aparelhos do estado que funcionam contra a transformaçom social e contra as arelas de liberdade dos povos que “coabitam”, entre muitas aspas, ou mal-vivem no Estado Espanhol. Acho que umha das virtudes deste livro é essa, intentar rachar o muro de ailhamento (porque a repressom também intenta ailhar-nos) e intentar explicá-lo. Mas é que, além disso, eu acho que há muitos elementos no caso catalão que muita gente conhece. A respeito do Grupo 6 por exemplo; sim que, quando menos, temos umha imagem deles no ano de 2002, quando numha manifestaçom altermundista de 50.000 pessoas para protestar contra a reuniom do Banco Mundial em Barcelona, há um momento no que saem uns supostos manifestantes escachando vidros e escaparates. Levam panos independentistas e barras de cobre. Logo dum quarto de hora, esses mesmos manifestantes estám practicando detenções. Isso era o Grupo dos 6 em plena acçom, no rigor do directo. Isso conheceu-se. A repressom nom é indiscriminada, é muito discriminada. Intenta separar sectores sociais. Eu acho que a vontade do livro é intentar achegar esta realidade, trasladar a sectores sociais que pensam que estas cousas nom acontecem o facto de que sim acontecem, que existem. E nom apenas que existem, senom que as pagamos; financiamo-las com os nossos impostos para actuarem contra qualquer tipo de dissidência. Primeiro foi com esta ampliaçom do delito de terrorismo difuso, esta equiparaçom de qualquer cousa com terrorismo, do que Núria Pòrtulas é mais um exemplo, e o encarceramento dos sindicalistas um outro; e afinal é como o poema de Brecht: começaram com o okupa mas, finalmente, o que buscam é qualquer faísca de dissidência, de transformaçom social. Com umha cousa que tem umha lógica muito global: a cultura do medo que se está a impor, com a qual justificam tudo, e que está a incorporar como ameaça para a democracia a “nova”, entre aspas, dissidência social. Isso é umha perversom. É voltar a cenários jurídicos e penais que têm muito a ver com o fascismo e com a vulneraçom de direitos, garantias e liberdades que pensavamos inalteráveis. Estam-se vulnerando, insisto, no nome da “santa segurança” dos negócios do mercado global e nom da segurança dos centenares e milheiros de pessoas que som vítimas da desigualdade e da injustiça.

A.P.: Fazias mençom antes, do traspasso das competências em matéria policial aos Mossos d’Esquadra. Neste senso, o traspasso supôs algumha mudança ou, polo contrário, existe umha linha de continuidade a respeito da política repressiva da Polícia Nacional?

D.F.: Homem, está claro que se definiamos o Grupo dos 6 como umha sentina que existia no corpo da Polícia Nacional; insisto, nom como um grupo que vai por livre, autónomo ou de incontrolados, como diziamos antes; senom como um grupo estável de trabalho desenhado polo poder, lamentavelmente a resposta é nom. Sim há mudanças no modelo de gestom mas continua... No caso dos Mossos d’Esquadra há umha divissom de informaçom que continua trabalhando sob os mesmos parâmetros. Diria que até com um nível de avanços tecnológicos muito importante e com umha mudança no modelo. O modelo da Polícia Nacional era um modelo de polícia muito reactivo, muito coercitivo. O modelo dos Mossos d’Esquadra é, polo contrário, muito preventivo; muito intensivo em informaçom. Em Barcelona, desde que chegaram, tivemos provas muito evidentes do nível de controlo social que há sobre os movimentos alternativos nos mesmos parâmetros que dizia antes: nom perseguir ilicitos penais ou presumíveis delitos; mas assembleias, ideias, projectos... De facto, eu acho que o caso de Núria Pòrtulas é a metáfora deste primeiro ano porque aplicam a mesma receita que empregou o Grupo 6 desde ano 2000: tratar qualquer tipo de dissidência ou resistência como um delito de terrorismo e envia-lo para Madrid. Envia-lo a aquele Guantánamo local que se chama Audiência Nacional, que se chama lei anti-terrorista, que se chama dispersom penitenciária... Eu acho que com um pequeno acrescentamento que é: “lamentavelmente”. Insisto na mudança do modelo, porque som cousas diferentes, som histórias diferentes. As polícias nas diversas democracias autoritárias de mercado têm as mesmas funções sociais de controlo e castigo. Com os Mossos d’Esquadra estamos vivendo cousas, nestes últimos messes, que nom viamos com a Polícia Nacional: sequestros de manifestações, emprego do kubotan, acosos pessoalizados a activistas dos movimentos sociais... A funçom é a mesma, já forem de marrom ou de azul, ou de azul e vermelho. Mas com a diferença de que tem umha história diferente, um pedigree diferente que se está a revelar como umha maquilhagem porque a realidade do corpo quando arranhas é, insisto, no caso do controlo social e da divissom de informaçom, exactamente a mesma. Ou pior.


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