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Concha Rousia

Eu sou Carlos Morais

11:00 11/02/2009

Vou-vos contar duas histórias, a primeira está inspirada no conto da rã de Olivier Clerc. Afinal nós, mesmo depois de que nos sangraram a nossa lagoa de Antela, seguimos a ser um país de água. O conto fala duma rã que não sabia que estava sento cozinhada... E a segunda história fala de um homem que pegou um brinco...

A rã sempre nadara livre na sua formosa charca, sem molestar ninguém, nem percebera que alguém tinha convertido a sua morada em caldeira; talvez porque primeiro a água seguia a estar fria mas aos poucos aos poucos a água foi aquecendo. No começo aquilo não a incomodou, por contra, até lhe parecia que estava mais boa e podia nadar mais. Ora bem, com um ritmo demolidoramente lento, a temperatura da água continuou a aumentar e aumentar, até um ponto em que deixara de ser agradável; mas a coitada da rã já estava a ficar sem forças e não se atrevia a tentar brincar para lado nenhum...

Dali a pouco a água estava realmente quente, aquecia e aquecia... e mesmo antes de se lhe anuviar a sua vista, ainda pôde ela ver como alguns andavam a alimentar o lume que convertia a caldeira no inferno, mas ela já nada podia fazer para fugir da morte... O caso é que se alguém a tivesse lançado naquela água quente ela teria brincado fora sem pensá-lo, mas como foi indo a cousa tão devagar quando quis acordar era tarde... estava entre-cozida, e nem podia já pensar direito...

Então, se ainda não estais como a rã, meio cozidos, pegai um brinco antes que seja tarde demais... Uma de duas, como diz o autor do conto da rã, ‘ou consciente ou cozinhado’ tu eleges, pegar ou não pegar o brinco...

Um brinco como o que eu sempre imaginei pegara o meu pai andando lá por terras espanholas, eram anos 40, quando ouviu um fulano dizer:
 
“Hay siete clases de gallegos: finos, entrefinos, marranos, y cochinos, unos ladran, otros muerden  y otros ni la puta madre que los parió  los entiende.”

Meu pai erguera-se do assento dum salto, aproximara-se do homem que acabara de falar e, tal como ele sempre contava...

“metim-lhe uma hóstia e tombei-o no chão, e disse-lhe: ‘Pois a ti entendo-te eu!” O homem ergueu-se ca boca pechada, o mesmo que os outros todos que estavam com ele...”
  E depois meu pai sempre acrescentava: ‘Só hai no mundo duas cousas polas que eu me bato com outro homem, uma é se ele violentar à minha mãe, e outra é se ele violentar a minha língua...”

Eu não vou negar que a ação do meu pai foi agressiva, mas fora a sua uma reação a um ato violento... Se confundimos violência com agressividade estamos perdidos, mas disso não vou aprofundar neste artigo... Só vou dizer que considero que a manifestação de ‘galicia bilingue’ do dia 8 de Fevereiro foi uns dos atos mais violentos contra nós nos últimos tempos... E eu a poucos de nós vi pegar um brinco e saltar da caldeira... ou mesmo ir pegar uma patada no filho da puta que atiça o lume da caldeira que nos queima... 

Só mais uma, última, reflexão... a imagem da rã chimpada na água quente, da que tratará de fugir, fez-me pensar no extermínio do povo judeu; a da rã cozinhando-se no banho-maria fez-me pensar no etnocídio do povo galego...

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Concha Rousia

Concha Rousia nasceu em 1962 em Covas, uma pequena aldeia no sul da Galiza. É psicoterapeuta na comarca de Compostela. No 2004 ganhou o Prémio de Narrativa do Concelho de Marim. Tem publicado poemas e relatos em diversas revistas galegas como Agália ou A Folha da Fouce. Fez parte da equipa fundadora da revista cultural "A Regueifa". Colabora em diversos jornais galegos. O seu primeiro romance As sete fontes, foi publicado em formato e-book pola editora digital portuguesa ArcosOnline. Recentemente, em 2006, ganhou o Certame Literário Feminista do Condado. »



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