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Socorro Lira, poeta e compositora

"Será preciso recontar esa parte da historia que fala do pobo galego no Nordeste brasileiro"

En poucos días estará con Ponte nas Ondas na VII Mostra da Oralidade Galego-Portuguesa. Lean aquí as reflexións da poeta brasileira e escoiten a peza "Samba de Galicia".

Ponte nas Ondas - 09:00 03/06/2008
Socorro Lira

Socorro Lira

Socorro Lira chegará a Galiza para emprender unha serie de colaboracións con Ponte...nas ondas! Ademais de divulgar o seu primeiro libro Aquarelar, a artista paraíbana manterá unha intensa labor de contactos con artistas galegos e portugueses para un proxecto dunha nova interpretación da lírica medieval galego-portuguesa. Desde o Brasil, responde ás preguntas de Ponte nas Ondas.

Socorro, cal é o teu coñecemento da lírica medieval galego-portuguesa?
Sou de uma região do Brasil, o sertão nordestino, que notadamente conserva ainda hoje muito da cultura ibérica da Idade Média.

A princípio, lá no sertão, a gente diz poesia, canta, toca viola, faz essas coisas sem pensar sobre elas. Faz por gosto e necessidade de expressão, creio eu. Depois é que toma consciência de que isto - que mais parece um hábito, um jeito de ser - tem uma história, uma origem em tal época e lugar da Europa.

Então, quando entendi isto, fiquei interessada e desejosa de saber mais sobre o que se chama, habitualmente, de poesia e música “medievais”, no Brasil. E fui buscar mais informações sobre, em livros, no cancioneiro tradicional... tentando uma compreensão mais justa e aproximada do assunto.

Mas tem um detalhe importante, aí. A Galícia, enquando povo, ao menos para mim, é uma “descoberta” recente. Galego, para nós, era uma pessoa de pele branca. Inclusive os mais pobres eram, frequentemente, vítimas de preconceito social.

Como chegaches a ese descubrimento?
Depois de compreender que a cultura nordestina tem uma origem medieval (quem sabe até anterior a esse período da história) e que isso que nós vivenciamos no Sertão da Paraíba pertence também a outros povos, pensei em me aproximar mais dessa raiz, da fonte, como dizemos aqui. Foi assim que, há mais ou menos três anos, eu quis fazer um CD com música portuguesa, motivada pelo fado de Amália.
Comentei de minha intenção com Andrea Lago, produtora cultural de São Paulo, e ela me disse: “Por que você não faz um CD com as cantigas de amigo medievais, as quais, segundo Ria Lemaire, são cantigas de mulheres? Tem um lugar, na Espanha, onde as mulheres cantam com vozes fininhas e tocam pandeiro (referia-se às vossas pandereteiras). Minha avó era de lá”, disse Andrea.

Eu, sabendo quase nada do que encontraria no caminho, contactei Ria Lemaire, na França, que também gostou da idéia. Comecei, então, a estudar literatura medieval, especialmente a lírica galego-portuguesa, com a finalidade de fazer um álbum musical. Estive na França, em Portugal e na Galícia em 2006 e 2007 para, entre outras coisas, apreender um pouco da atmosfera cultural contemporânea desses países. Principalmente o que não chega ao Brasil pela mídia.

Identifiquei-me tanto com o “jeito galego” de ser, que alimento uma profunda admiração pela vossa causa, no que se refere à afirmação e promomoção de vosso patrimônio cultural. Nisto, acabo por me aproximar também de Portugal.

Cal é a presenza do patrimonio cultural galego-portugués no Nordeste brasileiro ?
Como já me referi acima, é tão significativa quanto bela. Em geral, ainda não se fala desse patrimônio como sendo também galego; ele é normalmente mencionado como herança portuguesa e/ou ibérica. Aqui se fala muito de cantigas de amigo, de mal-dizer, de santa maria, de trovadorismo, de mouros... e muita gente, imediatamente, associa tal conhecimento a esse patrimônio que nos é comum. Porém, penso que será preciso re-contar essa parte da história que fala do povo galego no Nordeste brasileiro. É comum se falar em “espanhóis” quando se refere a, também, galegos.

Encontrei, na Galícia, muitas das expressões, nomes de pessoas, brincadeiras de criança, canções que também temos aqui. Ou seja, é certo que vocês contribuiram, que compuseram a nossa “nordestinidade”.

Cres que o patrimonio inmaterial galego-portugués merece ser recoñecido como Patrimonio da Humanidade ?
Sim. A humanidade precisa de novos caminhos, até para sua sobrevivência, e o saber popular tem grande contribuição a dar neste sentido. Mais do que estar na “moda”, cuidar e promover essa riqueza, é uma atitude necessária.

A Galícia dá um importante passo quando elege a cultura como meio de falar ao mundo. Gentilmente, abre-se ao re-encontro das nações irmãs e oferece o que tem. E, naturalmente, Portugal e Brasil dizem sim, com reciprocidade, já que o patrimônio é nosso.

É importante lembrar, também, da África lusófona. Fiquei sabendo, através de um amigo de Cabo Verde, que lá se canta um mesmo tema do São Gonçalo que é cantado em minha cidade, Brejo do Cruz, e que eu gravei em CD.

Cal é a percepción da cultura galega no Brasil ?
Há desconheicmento e distorções que precisam ser reparadas. Quando falo em Galícia, preciso explicar que esse lugar está no país hoje chamado Espanha, logo ali pertinho de Portugal, e que fala uma língua parecida com a nossa. Na Bahia, onde está a maior colônia galega, talvez já se tenha uma consciência maior da vossa presença, aqui, graças ao esforço de estudiosos, estudiosas e pessoas interessadas no assunto, que o colocam em debate.

A divulgación do patrimonio inmaterial compartido entre a Galiza e Portugal cres que pode axudar a entender mellor algúns aspectos da cultura brasileira ?
Sim. Com Portugal já mantínhamos uma relação direta que agora podemos estender à Galícia, por afinidade.

O vosso jeito de ser resistente, caloroso, afável, generoso – e até um pouco resignado - assemelha-se bastante ao modo nordestino de viver. Muita coisa nos une. É evidente que faltamos, quando não reconhecemos a contribuição galega em nossa formação cultural. É importante reconhecer quando se erra. Espero que, a partir de agora, a gente possa colaborar com a discussção.

Sabemos que tes unha relación co Instituto Beradêro, un proxecto dirixido pola Irmá Iracy , que foi a primeira mestra de música do Chico César. Fálanos desa relación.
Minha cidade, Brejo do Cruz, fica a 32 km de Catolé do Rocha, onde estar o Beradêro. Quando jovem, participei de movimentos juvenis de inclinação libertária, alguns destes ligados à Igraja Católica. E Iracy sempre teve uma preocupação, um cuidado especial com a juventude. Aprendi muito com ela e, quando cresci um pouco mais, ficamos amigas e parceiras no processo de revitalização de algumas manifestações populares da nossa região. Há uma colaboração entre nós. Dois violinistas da orquestra do Beradêro tocam rabeca no canto-dança de São Gonçalo que está se reunindo, novamente, em Brejo. Já o Chico César é um colega, amigo querido. Recentemente, ele participou de um projeto meu, cantando em um CD. Sempre nos encontramos, em São Paulo ou na estrada.

Como ves o labor que está a realizar Ponte...nas ondas! ?
Desde o meu primeiro contato, num encontro internacional de estudos galegos, em Salvador (Bahia, Brasil, 2006) fiquei impressionada com a reivindicação de galegos e galegas no sentido de afirmar uma identidade cultural própria. Nesse mesmo ano fui à Galícia para conhecer a gente, o lugar, a geografia de que tratam as cantigas (“ondas do mar de Vigo”...). Adorei!

Fui muitíssimo bem recebida nessa terra e fiz boas amizades. Tive colaborações imprescindíveis para meu projeto, vindas da Universidade de Vigo, através de Camino Noia e Gonzalo Navaza; de artistas como Uxia e Xavier Blanco; de pessoas do povo que me indicavam os lugares, com quem conversei na rua, enfim.

Aí conheci Ponte...nas Ondas! e fiquei entusiasmada com a disposição com que seus idealizadores tratam da questão do Patrimônio Imaterial, da educação nas escolas e da arte.

A julgar pelo que vem realizando e pelas parcerias estabelecidas durante todo o seu percurso, certamente, Ponte...nas Ondas! constitui-se numa grande força em defesa dos interesses do povo galego, em especial, e da disponibilização do seu saber para a humanidade toda.

O día 6 vas compartir escenario con Luar na lubre e con Vozes da Radio na VII Mostra da Oralidade Galego-Portuguesa, que supón para ti estar neste festival ?
Conheci Bieito, de Luar na Lubre, em Salvador. Ouvi o som de uma gaita, ao vivo, pela primeira vez, por ele. Tenho encontrado muita generosidade no meio artístico galego, em função do projeto Cores do Atlântico.

Será um bom momento para começar e reforçar boas amizades e, oxalá!, dar início a importantes parcerias. Estamos contentes – eu, e as instrumentistas que me acompanham: Ana Eliza Colomar e Cássia Maria – pela possibilidade desse encontro promovido por Ponte... nas Ondas!, a quem agradecemos, desde já, pelo convite.


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